"Welcome" - Problema da Emigração

18-11-2013 19:02

 

Welcome

(Bem -Vindo)

 

            É um filme magnífico, perfeito e sensível por retratar o tema da imigração num contexto amplo das relações humanas e das diferenças criadas entre as pessoas. Vários temas são abordados: a inocência, o otimismo, a coragem, o amor, a amizade, a solidariedade… Em momento algum, Bilal, jovem de 17 anos do Curdistão, desistiu da sua vontade, ou seja, de atingir o seu objetivo – passar o canal da Mancha para ir ao encontro da sua amada Mina. Na relação do jovem imigrante Bilal e Simon, professor de natação, não existe apenas compaixão. Penso que vê em Bilal uma excelente oportunidade para sua triste e depressiva vida após o seu divórcio. Arriscou tudo para ajudar Bilal. Mostra que tinha um coração muito grande.

 

            Quando me refiro que no próprio filme é retratado o sentimento de inocência, é porque, por exemplo, logo no início, num apartamento em Londres, num certo momento, o telefone toca e Mirko atende e escuta a voz de um amigo que há muito tempo não encontra - era Bilal. Este liga da cidade de Calais, de França, e diz que gostava de falar com a irmã de Mirko, Mina, por quem está apaixonado. Uma vez que Mina se encontra na escola, Bilal, pede para o amigo lhe avisar que ele tentará chegar a Londres de navio no dia seguinte. Este não sonhava por todas as dificuldades que tinha de passar para tentar entrar de forma ilegal no Reino Unido. E aqui mostra a inocência de Bilal, o mundo desconhecido. Mas, numa fase posterior, devido às dificuldades que encontrará, acredita que a sua melhor alternativa será a de aprender a nadar com o professor de natação, Simon, e atravessar o Canal da Mancha por sua conta.

            Ora, Bilal, um rapaz de 17 anos de idade do Curdistão, é considerado um bom jogador de futebol no seu local de origem. Tal como outras pessoas do seu país, ele também fugiu da sua terra de origem por causa da guerra, com o intuito de sobreviver e de conseguir dinheiro para ajudar a sua família. Ora, dois importantes fatores bem aqui patentes que, efetivamente, levam a que as pessoas sejam, de um certo modo, “forçadas” a rumar para outro país à procura de melhores condições de vida e fugir da guerra.

            Mas, porém, a sua vontade incansável de chegar a Londres tem uma razão muito mais específica: ele deseja casar-se com Mina, a irmã de uma amigo que conhecera ainda no Curdistão. Ele demorou três meses, a pé, para sair do Iraque e chegar até Calais. Esta história vai fascinar Simon, professor de natação, que, por sua vez, também passa por um momento pessoal menos bom: encontra-se em vias de se separar oficialmente da sua esposa, Marion.

            Bilal, como muitos outros imigrantes ilegais na França, enfrenta o frio da noite para conseguir uma refeição quente oferecida por voluntários perto do porto de Calais. Marion é uma das pessoas que faz este trabalho voluntário. É neste contexto que Bilal reencontra um amigo da sua terra, Zoran. Através deste, Bilal sabe que existem pessoas que facilitam a travessia de imigrantes ilegais, escondidos em contentores de mercadorias levados por camiões. Era necessário pagar 500 euros a essas pessoas para chegar ao Reino Unido e, também, no momento em que a polícia coloca dentro dos contentores um aparelho para detetar a presença de um gás carbónico emitido por pulmões, todos os ilegais colocarem a cabeça dentro de sacos plásticos para, desta forma, não denunciarem a sua presença. É a partir daqui que acompanhamos a aventura angustiante destes jovens para tentar mudar de país de forma ilegal. Ora, estes jovens acabam por se dar mal e logo assistem a um confronto de polícias e um juiz que reprova o comportamento destes, e recomenda que Bilal regresse para o seu país e caso fosse apanhado de novo, iria para a cadeia.

            Depois de algumas manifestações repugnantes de preconceitos e de exclusão social vividas por Bilal e pelos outros imigrantes, Bilal, com algum dinheiro e com alguma instrução (não falava francês mas falava inglês), acaba por frequentar uma piscina pública onde pedirá a um dos seus instrutores que o ensine a nadar estilo crawl. Simon, homem profundamente triste, estava a preparar-se para assinar os papéis do divórcio da sua esposa, Marion. Ora, Simon, depois de vivenciar a “derrota” da sua história de amor, decide ajudar de todas as formas o jovem rapaz lutador. E acaba por se desenvolver uma linda e emocionante relação entre os dois onde Simon “adota” Bilal como um “filho” onde procura contribuir e incutir, de alguma forma, uma vida que ele não conseguira para ele próprio realizar.

            (Uma frase que eu achei muito linda foi: “Fez 4 mil quilómetros a pé para a ver e agora quer atravessar o Canal da Mancha a nado. Quando me deixaste, nem consegui atravessar a rua para te ir buscar.”) Aqui demonstra bem ainda o amor que Simon sentia por Marion.

            Bilal era um garoto obstinado e persistente, ou seja, nenhum problema ou dificuldade o afetava, capaz de esmorecer e voltar atrás no seu objetivo. O seu espirito livre não acreditava de que era impossível atravessar o Canal da Mancha. E é esta teimosia em conseguir atingir o seu objetivo que se mantém acesa ao longo do filme e bem assente o que acaba por me emocionar.

            Ao longo do filme, mostra as várias manifestações de incompreensão e preconceito, a ponto de alguns, inclusive, insinuarem que Simon poderia estar a “explorar” sexualmente o jovem Bilal em troca de proteção e ajuda.

            É muito mais importante atuar mudando a vida de uma pessoa definitivamente, tal como Simon faz com Bilal no filme pois, se o professor não tivesse agido como agiu, a realidade do rapaz teria sido outra. O certo e relevante é, efetivamente, ajudar no sentido de uma mudança social positiva.

            Um filme essencialmente de caráter humanista sobre um rapaz obcecado por encontrar-se com a sua amada. Mas longe de ser uma história feliz … Welcome é um drama denso e realista que se prende sob questões políticas e sociais. Entra em cena, preconceitos étnicos, perseguições políticas e uma política de imigração cruel, pelo lado político. Pelo lado humanitário, o filme explora questões como a fraternidade, a amizade, a capacidade de superar adversidades, a empatia… Vale a pena ver o filme pelo seu caráter humanista e reflexivo. Espelha bem a realidade atual. Um retrato da exclusão social mundial. Este filme deve ser visto do ponto de vista do conhecimento sobre a imigração clandestina na França para saber como um sujeito será recebido ao chegar a um país desenvolvido europeu pela sem quaisquer documentos.

 

Sandra Dias