Emigração
Emigração
Decorria o ano de 1969, Maria tinha 4 anos, os irmãos mais velhos tinham 10 e 9 anos, respetivamente, e a mais nova tinha meses. O pai tinha partido para França um ano antes, em busca de uma vida melhor. Cheio de saudades da família, veio a Portugal, com um amigo, com o intuito de levar a família toda para junto dele. E assim foi, dentro de um carro ligeiro, os pais, os 4 filhos, mais o amigo do pai, 7 pessoas ao todo, incluindo uma bebé, iniciaram esta aventura da emigração.
O carro estava superlotado, as estradas, naquele tempo, eram uma miséria em termos de segurança e conforto, a viagem, não demorava menos que 2 dias inteiros, pois partiram de uma aldeia do distrito de Coimbra para uma vila, bem ao Norte de Paris.
Chegados perto da fronteira de Vilar Formoso, só o amigo do pai passaria de carro, os outros deveriam passar a fronteira pelos montes, pois não eram portadores de documentação que lhes permitisse tal feito. O pai de Maria tinha a sua situação legalizada, mas tinha de acompanhar mulher e filhos pelos montes, pela calada da noite, senão seriam apanhados e posteriormente repatriados.
Do outro lado da fronteira, o amigo os esperava, e a viagem continuou. As peripécias dessa primeira viagem, não iriam esquecê-las tão cedo, de tão intensas que foram. O objetivo de chegarem ao seu destino falava mais alto, e fazia parecer mais pequenas as dificuldades da viagem.
Como esta, muitas outras histórias existem, de pessoas decididas a enfrentar os maiores obstáculos que se lhes deparam, para poderem dar uma vida melhor aos seus filhos.
Maria cresceu em França, foi à escola, e fez-se mulherzinha. Com 14 anos regressa com a família a Portugal. Aí dá-se um choque cultural que ele carregará para sempre na sua memória, saí de um país que lhe oferece todo o conforto, para ir viver na sua aldeia natal. Conhece assim o Portugal rural profundo, com todas as suas vicissitudes.
A aldeia, ela já a conhecia, das férias passadas em Portugal a cada mês de agosto, mas viver aí definitivamente e deixar para trás uma vida de conforto foi mais uma experiência difícil pela qual teve que passar.
Os anos passados em França contribuíram para construir a casa lá na aldeia. Uma grande casa, diferente de todas as outras, vistosa pela sua arquitetura. Mas a vida em Portugal era diferente, bem diferente, e o dinheiro, que pouco mais serviu do que para investir na casa, começou a escassear. Fazer-se à vida era agora o que devia fazer Maria.
Esta não é uma história de emigração de grande sucesso, mas é a história de Maria!
Mª da Conceição Silva Carvalho